quarta-feira, 25 de abril de 2012

647 - das condições de leitura, 47




meu coração, looping (2015)
uma vídeo-performance de cristiane lindner
















a vídeo-performance meu coração, looping (2015) de cristiane lindner retoma e desdobra alguns dos procedimentos mais caros à artista, reconhecíveis, por exemplo, em arqueologia de um tempo qualquer. assim, a citação – nem sempre explícita –, o comentário, a apropriação e a atribuição errônea convivem como recursos limiares, a rigor não discerníveis, assim como a contingência e a precariedade dos sentidos e da matéria são elementos que assumem um caráter ao mesmo tempo construtivo e destrutivo. na vídeo-performance – realizada em desterro, hoje mais conhecida como florianópolis, em infame homenagem ao marechal floriano peixoto – as alusões ou afinidades com proposições como as de christian boltanski, nuno ramos, miguel rio branco, andrés denegri, rosângela rennó, entre outros, podem ser percebidas para além do plano formal. o vídeo (do latim video: “eu vejo”), como se sabe, aponta sempre para uma espécie de vazio (no francês vide). em certo sentido, trata-se aqui de uma busca, mas também de uma fuga: uma corrida que se apresenta de modo velado: indecidível entre o fitness e a escapada, entre o bem-estar e risco de vida, é o ritmo algo acelerado – dos passos, da respiração, do coração – que tange esse nomadismo arriscado, despersonalizado e possivelmente sem fim, algo que é reforçado com o loop do registro do caminho percorrido. uma proposta ética parece acompanhar tais imagens vertiginosas: afinal, nas imagens eu vejo meu coração batendo fora de mim.

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